Armas e munições

ARMAS DE FOGO E SUAS MUNIÇÕES

É importante que possamos escolher nosso armamento e equipamento não pela marca ou pela fama, e sim pelas qualidades que nos são mais caras e importantes.

São inúmeras as literaturas que tratam de armas de fogo, algumas vezes as informações podem ser conflitantes entre uma e outra. Para mantermos um padrão para nossas referências, a CCTRB disponibiliza uma página de Terminologia Comum, que será como nosso glossário, afinal para nos comunicarmos sem “ruídos” precisamos usar vocábulos que tenha significado comum para todos.

É importante que possamos escolher nosso armamento e equipamento não pela marca ou pela fama, e sim pelas qualidades que nos são mais caras e importantes. Esperamos que nossos afiliados encontrem conosco o conhecimento para tal.

As diferentes ofertas de munições podem melhorar o alcance de uma arma ou alterar sua balística terminal. A utilização de equipamentos óticos pode aumentar seu alcance de emprego ou melhorar sua eficiência para emprego rápido a menores distâncias. Uma arma pode ser considerada como um sistema capaz de receber diferentes configurações, mas hoje ainda não é possível se afastar muito da essência de sua concepção. Não é razoável tentar configurar um rifle de caça pesada para tiros mais longos e de precisão, nem configurar um rifle leve de trajetórias tensas para caça de animais perigosos – “dangerous game”.

Ainda assim é importante sempre considerar quais serão as possibilidades e a eficiência do conjunto formado pela “arma/munição/aparelho de pontaria”. As diferentes configurações deste conjunto vão afetar sua flexibilidade de emprego permitindo prestigiar uma melhor precisão, alcance ou efeito terminal.

Aos que iniciam no mundo das armas, vamos tratar de definir nossas referências e alguns conceitos que são importantes para identificação e seleção de uma ou outra arma de fogo.

CLASSIFICAÇÃO DE ARMAS

Definições quanto ao tamanho da arma, tipo de funcionamento, tipo de alma e outras informações

CLASSIFICAÇÃO DE ARMAS

As armas são classificadas de acordo com sua forma, emprego e características técnicas. Vamos tratar apenas dos seguintes grupos de classificação que consideram o tipo de alma, o tamanho o tipo de funcionamento. Essa classificação compõe parte da nomenclatura formal da arma.

a) Quanto ao tamanho

  • de porte ou curtas: aquelas que podem ser conduzidas junto ao corpo, em coldres ou na roupa. Pistolas e revolveres fazem parte deste grupo;
  • portáteis ou longas: são aquelas que não se prestam ao porte, mas podem ser conduzidas por uma única pessoa. Os fuzis, rifles, carabinas e espingardas se classificam neste grupo;
  • não portáteis: são aquelas que não podem ser transportadas por uma única pessoa.

b) Quanto ao tipo de alma

  • de alma raiada: aquelas cujo o interior dos canos (alma) possuem sulcos chamados de raias ou uma deformação poligonal interna helicoidal que promovem a rotação dos projetis. O movimento de rotação é importante para a estabilização do projetil não esférico ao longo da trajetória;
  • de alma lisa: aquelas cujos os canos não possuem raias internamente. As espingardas integram este grupo. As munições das armas de alma lisa possuem muitas diferenças em relação às de alma raiada.

As diferenças entre as armas de alma lisa (espingardas e garruchas) e as de alma raiada são muito significativas. Inclusive o conceito de calibre e a nomenclatura das munições são diferentes.

c) Quanto ao tipo de funcionamento:

  • antecarga: são aquelas cujo o carregamento do projetil e da carga é realizado pela boca;
  • tiro simples: são aquelas em que o atirador carrega a munição na câmara manualmente. Podem ser articuladas ou possuirem um sistema de abertura da culatra para permitir o carregamento manual da arma;
  • de repetição: as operações de destrancamento, abertura, extração, ejeção, apresentação, carregamento, fechamento, trancamento e disparo dependem de ação do atirador.
  • semiautomáticas: apenas a operação de disparo depende de ação do atirador;
  • automáticas: as operações são realizadas automaticamente uma vez acionado o gatilho.

CLASSIFICAÇÃO DE MUNIÇÕES

Definições quanto ao tipo de iniciador, tipo de projetil e etc.

CLASSIFICAÇÃO DE MUNIÇÕES

É recomendável muita cautela para se utilizar munições avulsas fora de suas caixas de fábrica. Considere que as munições normalmente podem ser recarregadas e que as diferenças de carga e projetil não são facilmente identificadas.

Assim como as armas, as munições também podem ser classificadas em função de certas características de construção.

a) Quanto ao iniciador

As munições podem ser classificadas, em razão do processo utilizado para iniciar a queima do propelente, como de:

  • “fogo central”; e
  • “fogo circular”.

As munições de fogo central utilizam espoletas alojadas no centro da base de seus estojos que são acionadas ao serem atingidas pelo percussor. A espoleta é o componente da munição que contém o elemento/mistura iniciador(a). Após percutida, o fogo gerado atinge a pólvora do estojo através de “canais de fogo” existentes entre o alojamento da espoleta e o compartimento da carga de projeção.

Normalmente as espoletas podem ser do tipo Berdan ou Boxer. A principal diferença entre elas é existência do componente chamado de  “bigorna”, presente na estrutura das espoletas Boxer e ausente na Berdan . Os estojos que vão calçar estas espoletas também são diferentes e não são cambiáveis entre si.

Os estojos para as espoletas Berdan possuem mais de um canal de fogo deslocados do centro e uma protuberância no centro do alojamento da espoleta chamada de bigorna. Já os estojos para espoleta Boxer possuem apenas um canal de fogo central no alojamento da espoleta. Não há necessidade da bigorna que é um componente interno da própria espoleta.

As espoletas mais procuradas são as do tipo Boxer que facilitam as operações de recarga. Em termos de performance as duas se equilibram.

As munições magnum vão demandar espoletas igualmente magnum que possuem carga adequada para realizar a deflagração do propelente com melhor uniformidade.

As munições de “fogo circular” não possuem espoletas centrais. O elemento iniciador é distribuído ao redor do perímetro de sua base. Estas munições são comuns em pequenos calibres com estojos pequenos. Como o percussor pode atingir o iniciador em qualquer ponto do perímetro do estojo, é importante que o iniciador seja uniformemente distribuído ao longo da borda para assegurar a regularidade da queima do propelente.

b) Quanto ao tipo de projetil (carga)

As munições podem ser carregadas com um projétil ogival, como é o caso da armas de alma raiada; ou com cargas de chumbo, como é o caso das armas de alma lisa (espingardas e garruchas). Estas últimas possuem construção e forma própria inclusive sua nomenclatura é exclusiva. Elas são conhecidas por cartuchos de munição ou simplesmente por munição de espingarda.

As armas raiadas disparam um único projetil ogival, as raias são necessárias para dar estabilidade ao projetil, minimizando o momento resultante dos vetores de pressão de peso (CP e CG). As armas de alma lisa disparam cargas de chumbo esférico que ficam contidas no interior do cartucho e não necessitam de rotação já que os vetores de pressão e peso não geram um momento.

NOMENCLATURA
E MARCAÇÃO

As armas devem ser usadas com suas munições apropriadas sob o risco de expor o atirador a sérios riscos. Algumas vezes a diferença entre um calibre e outro repousa em poucos caracteres, assim é muito importante conhecer e estar atento à correta nomenclatura. 

MARCAÇÃO DE ARMAS

As armas costumam ser identificadas por sua classificação (fuzil, revólver, espingarda, pistola…) seguida de seu modelo e calibre. É necessária atenção porque um mesmo modelo pode ser produzido em diferentes calibres.

As marcações são deformações mecânicas ou inscrições gravadas ou fixadas nas armas que permitem sua identificação inequívoca. As armas saem de fábrica normalmente com as seguintes marcações visíveis em seus componentes principais:

  • Número de série: armação, ferrolho de pistolas e cano
  • Modelo: armação, ferrolho das pistolas
  • Calibre: armação, ferrolho das pistolas
  • Fabricante: armação,ferrolho das pistolas

As áreas disponíveis na superfície e o material dos componentes influenciam o posicionamento das marcas. Como os ferrolhos de pistolas costumam ser prismáticos, eles possuem possuem bastante espaço para marcação.

A posse de armas com marcação raspada é considerada crime.

O surgimento de rifles capazes de trocarem de cano e de calibre gerou um pouco de confusão entre as autoridades de controle. Os sistemas de registro e controle não permitiam registrar mais de um calibre por arma. Durante algum tempo era exigido que o cano e a armação possuíssem o mesmo número de série. Hoje a DFPC já aceita esta situação mas estuda uma nova norma de marcação. A CCTRB tem argumentado contra a marcação dos ferrolhos dos fuzis de repetição e defende que não sejam agregadas novas marcações além das originais de fábrica

NOMENCLATURA
E MARCAÇÃO

Munições fora de suas caixas devem ser tratadas com muito cuidado.

MARCAÇÃO DE MUNIÇÕES

Munições de armas de alma raiadas

As munições das armas de fogo raiadas são designadas pelo seu calibre, que é a medida do diâmetro do cano (de raia a raia). Existem dois tipos de notação mais comuns do calibre baseadas no:

  • Sistema métrico – milímetros (mm); e outra
  • Sistema britânico – polegadas (“).

É bom conhecer os dois, as vezes a munição que você precisa pode estar designada de forma diferente da que está acostumado a encontrar. Alguns atiradores não encontram munição 7x57mm por que em alguns países ela é designada como .275 Rigby. Não custa lembrar que é importante estar atento à nomenclatura exata da munição, o uso de munição errada pode causar danos ao armamento e ao atirador.

No sistema métrico a munição é identificada pelo calibre aproximado do projetil e pelo comprimento de seu estojo, tudo em milímetros. A notação 9×19 significa que o calibre aproximado do projetil é de 9mm e que seu estojo tem 19mm de comprimento.

Ocasionalmente, algumas munições mais conhecidas, também podem ser designadas pelo calibre do projetil seguido do fabricante, como é o caso da 9 Luger ou 9mm Luger. É a mesma munição 9×19 com um outra notação.

No sistema britânico a nomenclatura é bem variada, normalmente será identificada pela medida aproximada do calibre do projetil em centésimos ou milésimos de polegadas e em seguida pelo fabricante, seguido ou não de outras especificações (LR, SR, Mag, Fl, R…). A munição .416 Rigby possui o projetil com calibre aproximado de .416” e foi inicialmente lançada ou desenhada por John Rigby, enquanto a munição .416 Rem também possui o projetil com calibre aproximado de .416” mas foi lançada pela Remington. Como exemplos de variedade de nomenclatura vale a pena lembrar do .30-06 e do .45-70. A primeira é a .30 Springfield ou 7,62×63, os dois últimos números representam o ano em que a munição foi adotada pelo Governo americano – 1906. Já a segunda é a .45 Gvmt os dois últimos números representam o peso em grains com que o cartucho era carregado – 70gr (4,53g).

Ocasionalmente a notação de uma munição contém as letras “R” (rim) – 7,62x54R – ou “Fl” (flanged) – .375Fl NE, indicando a presença de uma borda na base do estojo. Algumas munições são classificadas pelos fabricantes como “magnum”, indicando que são munições com energia superior ao padrão do calibre: 300WinMag, .338LM, .357Mag, .270WSM (Winchester Short Magnum), 7mm RemMag e 7mm RUM (Remington Ultra Magnum).

Munições de armas de alma lisa

As espingardas possuem canos sem raiamento e suas munições, normalmente referidas como cartuchos, não são designadas pela medida do diâmetro interno do cano em milímetros ou polegadas – calibre, a unidade de medida usada é GA, que vem do inglês “gauge”. A notação GA das espingardas corresponde ao número de esferas de chumbo, cujo o diâmetro é igual ao diâmetro interno do cano, que podem ser feitas a partir de uma libra de chumbo. Usando outras palavras seria o inverso da fração entre o peso de uma esfera de chumbo no diâmetro interno do cano (choke pleno) divido por uma libra.

É meio difícil de explicar, por isso vamos passar para os exemplos, que vão ajudar no entendimento:

  • 12GA: doze esferas de chumbo com o diâmetro interno do cano somam uma libra de peso;
  • 28GA: vinte e oito esferas de chumbo com o diâmetro interno do cano somam uma libra de peso;
  • 32GA: trinta e duas esferas de chumbo com o diâmetro interno do cano somam uma libra de peso.

Assim quanto maior a notação GA, menor será o calibre do cano. Uma espingarda 12GA corresponde a um calibre 18,53mm e uma 28GA corresponde ao calibre 13,97mm.

Algumas munições de espingarda também vão contar com o comprimento de seus estojos e muitas vezes a notação GA não é utilizada: 12/70 é uma 12GA com 70mm de comprimento e a 12/76 é uma 12GA com 76mm de comprimento.

Os projetis das munições de espingarda ficam contidos dentro do estojo. Eles são chamados de bagos e são oferecidos em diferentes diâmetros e materiais. Os bagos são numerados de acordo com seu diâmetro. Para complicar existem algumas numerações diferentes, por essa razão alguns fabricantes simplesmente referem-se aos bagos por seu diâmetro aproximado.

Algumas munições são carregadas com um único projetil chamado de balote ou “slug”, estes podem possuir empenas para auxiliar na estabilidade de vôo e seu peso pode variar de 26 a 39g.

Como munições de espingardas podem ser carregadas com diferentes cargas de bagos (pellets) e até com balote, normalmente a sua notação também faz referência ao tamanho do bago e ao seu peso total:

– 12/70, Ch 7,5, 28G: é uma 12GA com 70mm de comprimento, com 28 gramas de chumbo (bagos) 7,5. O chumbo 7,5 possui um diâmetro aproximado de 2,4mm.

– 12/65, 2,9mm, 31G: é uma 12GA com 65mm de comprimento, com 31 gramas de chumbo (bagos) com 2,9mm de diâmetro.

– 12/76, 2,7-4,0mm, 52g: é uma 12GA com 76mm (as vezes vem como 3”) de comprimento, com 52 gramas de chumbo (bagos) variando de 2,7 a 4,0mm de diâmetro.

Algumas munições são classificadas pelos fabricantes como “magnum”, indicando que são munições com energia superior ao padrão do calibre: 12/76 Mag 2,7-4,0mm, 52g, 20/76 Mag, 2,7-3,7mm, 33g e 12/76 Brenneke Mag, 39g.

Os calibres mais usados são 12GA, 16GA, 20GA e 28GA. O calibre 12GA é muito versátil podendo utilizar ampla gama de bagos e ser utilizado para caça e para provas de tiro TRAP, FOSSA e SKEET. O menor alcance, a dispersão dos disparos das espingardas e a rapidez do tiro dispensam o uso de equipamentos óticos ou miras táticas.

Tabela de correspondência de numeração de bagos (chumbo):

Cada munição deve ter seu estojo marcado na base com sua notação de calibre. As fabricas possuem códigos que por vezes também são gravados na base dos estojos. Pelo pouco espaço disponível para gravação faz-se bastante uso de códigos. No Brasil, a legislação impõe que as munições aos OSP e FFAA também possuam marcação na virola dos estojos.

BALÍSTICA

Uma melhor noção sobre a balística pode ajudar aos atiradores e aos caçadores a compreenderem melhor o comportamento dos projetis ao longo da sua trajetória e o seu efeito no alvo. Este conhecimento é uma ferramenta muito útil para auxiliar na escolha acertada de arma / calibre e munição e também para aprimorar algumas técnicas de tiro.

BALÍSTICA

Em razão da resistência do ar e da ação da gravidade, um projetil estabilizado descreverá uma trajetória semelhante a uma parábola ao sair da boca da arma, mas muitos outros vetores podem afetar a trajetória. A balística é o ramo da ciência que estuda o comportamento e os vetores que atuam em um projetil desde o momento do disparo, até ao final de sua trajetória. Seu campo de estudo não se limita ao comportamento ao longo do vôo – Balística Externaele abrange também outras fases e as diferentes influências que interferem em cada fase.


Uma dessas fases é a da aceleração, que vai do momento da percussão da espoleta até a saída do projetil pelo cano da arma, esta é denominada de Balística Interna. Esta fase é muito interessante porque as características da munição vão interagir com as características da arma. O seu conhecimento vai ajudar no momento de escolher o comprimento, tratamento interno, tipo de boca e fixação do cano de sua arma. Também vai permitir compreender as vantagens e desvantagens do tipo ou formato do estojo da munição e das diferentes pólvoras. A atividade de recarga de munição demanda mais conhecimento desta parte da balística.

Assim que sai do cano, o projetil deixa de sofrer a resistência do atrito do cano e passa a sofrer outras influências como da gravidade e do vento. Esta fase é conhecida por Balística de Transição. Distingue-se da Balística Externa por que ainda existe pequena influência da ação da expansão dos gases e ainda não ocorre o arrasto de culote. Deformações na boca do cano da arma podem afetar o restante da trajetória do projetil, por isso algumas armas possuem a boca do cano com um formato côncavo de forma a proteger o final da alma do cano.

O comportamento do projetil no alvo é abordado pela Balística Terminal. Ela é estreitamente relacionada com a forma, peso, calibre, velocidade inicial e material do projetil. A balística terminal é de grande importância para munições de caça e de defesa pessoal e de menor importância para munições de tiro ao alvo.

BALÍSTICA INTERNA

Quando o precursor atinge a espoleta encerra-se a tranquilidade (imobilidade) do projetil. A expansão dos gases expele o projetil de seu repouso no estojo  rompendo a pressão do “crimp”, e o projeta contra o início do raiamento. Essa distância entre sua posição de repouso e  início do raiamento é chamada de salto – “jump” – e não deve variar entre uma munição e outra. As raias formam sulcos no projetil que é forçado a rotacionar acompanhando o passo do raiamento. O salto é importante para reduzir o pico de pressão na câmara, pois o projetil já está em movimento quando atinge o início do raiamento.

A regularidade da chama da espoleta, a precisão da quantidade de carregamento da pólvora, a regularidade de queima da pólvora e o correto assentamento do projetil no estojo vão ser de grande importância na repetibilidade da velocidade de boca do projetil. A grande maioria das munições magnum, utilizam espoletas específicas também classificadas como magnum.

A existência de espaços vazios no estojo também pode influenciar a velocidade de queima da pólvora e provocar picos de pressão anormais. A relação entre o volume do estojo e o volume de pólvora é chamada de densidade de carregamento, valores muito baixos podem causar uma reação de detonação da pólvora e não de deflagração, ou seja, ao invés de “queimar” a pólvora “explode”. Estojos vazios com espoletas estufadas para fora são indício de excesso de pressão. Como curiosidade peças de artilharia, que usam munição desengastada, podem ser carregadas com diferentes quantidade de saquitéis – ou cargas. Para evitar os riscos oriundos da baixa densidade de carregamento com as cargas mais fracas, as cargas são prensadas com um opérculo, assim o volume vazio no estojo, não interfere na densidade de carregamento.

Enquanto percorre o cano, impulsionado pela expansão dos gases, o projetil sofre a resistência do atrito da alma do cano e empurra o ar que está a sua frente. Conforme se desloca, aumenta o espaço de expansão dos gases atrás de si reduzindo a pressão interna na câmara. O primeiro terço do cano é que sofre mais desgaste principalmente pela temperatura gerada pela deflagração da pólvora.

Quanto mais plana a curva da pressão gerada, mais energia será transferida para o projetil. Alguns fatores que interagem na transferência de energia são o comprimento do cano, o calibre, a velocidade de queima da pólvora, o formato do estojo, a densidade de carregamento, o material do projetil ou de sua jaqueta e outros.

Um cano mais longo permite um maior aproveitamento da expansão dos gases  e o uso de pólvoras de queima lenta que geram curvas de pressão mais planas onde o ápice se mantém por mais tempo. Canos mais curtos demandam pólvoras com queima mais rápida que geram curvas com picos agudos de pressão.

Atualmente alguns fabricantes produzem munições próprias para armas com comprimento de cano curto (42 a 55cm), essas munições possuem pólvora de queima mais rápida para evitar perda de alcance e a língua de fogo –  flash”.

Vamos incluir mais o fator da vibração do cano após o disparo. Para reduzir os efeitos desta vibração muitas armas de precisão utilizam canos com perfil maior e mais pesados. Os canos que não possuem nenhum outro ponto de contato com a arma, alem de sua fixação na ação são chamados de canos flutuantes. Considerando que a vibração como uma onda senoidal originada a partir da câmara, que está fixada na ação, é possível encontrar uma carga que provoque vibração tal que a  boca do cano coincida com outra raiz.

Em se tratando de munições de espingarda, não existirão raias no cano, mas o padrão da dispersão dos bagos durante a balística externa sofre influencia de fatores tais como: “choke” – estrangulamento, comprimento do cano, material do estrangulamento, geometria do estrangulamento e o acabamento do estrangulamento. As espingardas podem ou não usar “chokes” – estrangulamentos na boca do cano que influenciam significativamente o padrão de dispersão dos bagos. Os mais usuais são o cilíndrico ou aberto (CIL), “improved” (IMP), modificado (MOD) e pleno (FULL). Mais informações, clique aqui.


O choke cilíndrico ou aberto não possui qualquer constrição, sua dispersão é superior a dos outros 3 chokes e admite o uso de balotes sem qualquer restrição.

BALÍSTICA DE TRANSIÇÃO

Imediatamente após sair da boca da arma, o projetil deixa de sofrer a resistência do atrito do cano, mas gases ainda terão velocidade superior ao projetil e estarão atuando na base e laterais do projetil.

Para que os gases escapem uniformemente sem prejudicar o deslocamento do projetil, é importante que a seção reta da boca do cano seja perfeitamente perpendicular à trajetória e que seja livre de deformações. Muitos canos possuem a boca em forma de cone para proteger o final do raiamento contra pancadas.

Freios de boca, silenciosos e quebra-chamas são dispositivos que podem interferir diretamente na balística de transição. Alguns rifles de assalto, onde a precisão não é tão demandante, possuem a boca do cano cortada em um seção inclinada de forma a reduzir a tendência de subida da arma.

BALÍSTICA EXTERNA

Durante o vôo os projetis são afetados principalmente pela resistência do ar, gravidade, arrasto e vento. Outros fatores são relevantes apenas para trajetórias muito longas onde o projetil permanece mais tempo em vôo.

A força da gravidade vai sempre atrair o projetil para baixo, assim as trajetórias tomam forma de parábolas.Quanto menor a velocidade de deslocamento maior será o gradiente de queda do projetil. Quanto mais longa a parte plana da trajetória, mais distante o atirador poderá atirar sem ter que corrigir a queda do projetil. Quanto mais tempo o projetil permanecer supersônico mais plano e longo será o trecho inicial da parábola.

A forma e o peso do projetil têm grande influência na balística externa. O coeficiente balístico é uma forma de avaliar a eficiência com que o projetil se desloca no ar ou sua aerodinâmica. Ele é o resultado da razão entre a massa do projetil e o produto do quadrado de seu calibre multiplicada pelo coeficiente de arrasto. Os  melhores coeficientes chegam a 0,629 (6,5 Creedmoor, 143gr) e os dos grandes calibres de caça oscilam entre 0,250 a 0,350. Alguns projetis possuem base ogival como forma de reduzir o arrasto  de culote o qual se opõe ao   movimento do projetil e funciona como um freio.

É muito importante que o atirador conheça as características balísticas de sua arma e munição. Como o projetil não segue uma trajetória plana, o aparelho de pontaria tem que ser regulado para um alcance específico onde a trajetória coincide com a linha de visada. Isto quer disser que se uma arma está zerada para 150m, os impactos em alvos situados mais próximos ocorreram acima do ponto de visada e os impactos em alvos situados a mais de 150 ocorreram abaixo do ponto visado. Muitas munições vêm com uma tabela gráfica em suas caixas mostrando a variação do tiro em centímetros em relação ao alcance em metros. O alcance considerado ideal para zerar a arma pode aparecer como RZR “Recommended Zero Range”. Uma forma  simples de fazer isso em um alvo a 100m é simplesmente regular para que o centro dos impactos fiquem entre 5 e 4 cm acima do ponto visado.

No caso das cargas dos cartuchos (munições de alma lisa), além das velocidades de boca serem muito menores, variando de 360 a 430m/s, os bagos perdem rapidamente a velocidade reduzindo significativamente o alcance. Quanto mais distantes da boca do cano, maior será a dispersão dos bagos. Costuma-se chamar de “rosada” ao padrão dos impactos dos bagos em um alvo plano perpendicular a trajetória.

O uso de bagos metálicos também interfere bastante na balística externa. Como os bagos metálicos possuem uma densidade (7,8g/cm³) inferior aos bagos de chumbo (11,0g/cm³), a velocidade e o alcance deles deles é muito inferior. Recomenda-se sempre usar uma carga com duas numerações acima para manter as características da carga de chumbo.

BALÍSTICA TERMINAL

Estuda o comportamento e o efeito do projetil ao atingir e transferir sua energia para o alvo. As características básicas que interferem na balística terminal são a forma, calibre, estrutura interna, peso e velocidade do projetil.

Existe uma gama de projetis disponíveis no mercado que permite ao interessado selecionar, em um mesmo calibre, munições mais apropriadas para penetração, deformação, retenção de massa ou até fragmentação. Existe um equilíbrio a ser alcançado entre penetração e transferencia de energia. Quando o projetil atravessa o alvo ele deixa de transferir parte de sua energia (E transferida = E impacto – E saída). Por outro lado, em se tratando de grandes animais “big game”, o projetil necessita ter capacidade de atravessar o tecido e romper ossos sem perder a direção.

Os projetis são oferecidos com variadas formas de ogivas, desde   as mais agudas e aerodinâmicas com ponta sintética até as arredondadas – “round nose”. É interessante levar em consideração que em trajetórias curtas o coeficiente balístico não possui tanta importância, havendo riscos de galhos ao longo da trajetória, munições com ogiva aguda podem sofrer mais desvios do que as com ogiva mais arredondada. Verifique a vegetação da sua área de caça para poder escolher a munição mais apropriada.

A estrutura interna dos projetis pode ser projetada para ser mais ou menos resistente, garantindo, respectivamente, maior ou menor penetração. Hoje existem fabricantes que produzem munições literalmente com dois estágios: parte dianteira da ogiva tem características macias para garantir uma pancada inicial violenta; e a parte  posterior é mais pesada e menos sujeita a deformação para garantir penetração profunda sem ser desviada por ossos. Uma pequena borda no corpo do projetil se destina a cortar o couro e pêlo do animal garantindo sangramento externo pelo orifício de entrada e facilitando o rastreamento quando necessário.

Além destes projetis extremamente sofisticados é possível encontrar os mais conhecidos: sólidos, macios, com jaqueta reforçada soldada e outros.

 

Alguns calibres admitem ser carregados com projetis com significativa diferença de peso, até 50% mais leves. Esta diferença altera consideravelmente não só sua balística interna como a externa.

Alguns parâmetros considerados importantes na balística terminal são:

  • área da seção reta: 3,14x(calibre/2)² – diretamente associada ao calibre
  • densidade de seção reta: massa/área de seção reta – associada ao calibre e peso

– velocidade – excesso de velocidade pode ser prejudicial.

Um exemplo clássico é o comportamento da munição militar M193 5,56×45, ela tem um performance de penetração superior em pranchas de Pinus a 200m do que a alcances menores. A explicação é que nos menores alcances a velocidade fazia com que o projetil se desintegra-se.

PODER DE PARADA “KNOCK OUT – KO”

Muitos caçadores profissionais (PH) perceberam que a simples medida de energia da munição não era parâmetro suficiente para avaliar e comparar o poder de parada das munições.

Para obter uma melhor noção de comparação entre real poder de parada dos diferentes calibres muitos caçadores criaram fórmulas que se tornaram populares para comparação de munições. Vamos apresentar algumas dessas medidas.

– Densidade da seção reta

É a razão da massa de um projetil por sua sua seção reta. Quanto maior este parâmetro, melhor será o resultado terminal.

Como uma referencia, muitas literaturas simplificam esta razão apenas para a massa em libras do projetil dividida pelo quadrado do calibre ao invés de sua área. Para caça de animais perigosos – “dangerous game” – o valor mínimo recomendado é de 0,300.

– Poder de parada – “knock out” – de Taylor

Esta é outro parâmetro “craneado” por um PH africano chamado PONDORO TAYLOR. O poder de “knock out” (KO) de Taylor, como ficou conhecido, é resultado da multiplicação do calibre do projetil em polegadas, pelo seu peso em libras e por sua velocidade em pés por segundo. É um parâmetro reconhecido para comparar a “pancada inicial” dos diferentes calibres.

Usando estes parâmetros vamos comparar alguns calibres comuns:

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